Vou-me
embora, pois já não sou bem vinda. Sinto a faca de teus olhos perfurando meu
coração ----- esse teu olhar inimigo corrompe minha confiança.
Vaidade,
joias e perfumes. Experimentei rios de ouro e, simultaneamente, de desapego.
Bebi muitos vinhos e odiei a todos. Me encontrava em constante estado de
insatisfação; domesticada pelo meu coração; escrava do teu fantasma.
Eu estou
feliz. Eu nunca te amei. Eu senti um encanto, uma simpatia por um ser tão
avesso, tão cheio de ego. Quebrou-se.
Tudo definhou, eu restei. Se tivesse selado com uma aliança hoje minha paz
seria pó. Foram degradantes os momentos que senti tua ausência e fiquei a
chorar sob teus pés.
Guiava-me
pelas veredas que bem te entendiam, foste tão pretensioso! Ora, só agora se
fazem claras para mim tuas vontades, teus caprichos e tuas vaidades. Enxergo
tudo calculado, frio e cheio de politicagem. Como, mas como pude tapar os olhos
defronte de tua ávida ganância? Pois esta era a raiz de tantos quereres
egoístas. Leio sem palavras, minha fonte de alfabetização é minha memória. Não tenho retrato nem mensagem
para contar a história. Basta teu jeito obstinado, que sempre relutou ao meu
comportamento dócil, fazendo com que eu acreditasse ser louca, má, uma bruxa.
Afinal, a ostentosa e caprichosa era eu; a sorridente e cortejada, idem. Em
consequência de tal, sairia como a criança berrante, a mulher mal crescida, o
lado ignorante do relacionamento.
Diga-me,
onde está a justeza e a boa vontade daquele que pratica com outras intenções?
Seu caráter é incorruptível, sua cara é limpa e seu coração, desconhecido.
Perante o público torna-se o idiota martirizado que, mesmo sabendo da exclusão
social da qual é vítima, prefere tomar a face d’um tonto, concluindo o 1º grau
no curso dos sonsos.
Mas que há,
por vezes, motivos mal procurados nas cortesias, há. Bajulações muito grandes,
devoções muito fieis, intelecto espetacular, olhar vingativo e pequeno, pele
fria, ortografia chula, coração fechado demais. Nem tudo o que parece é. Às vezes nos
precipitamos no julgamento. Outras vezes, demoramos demais para decidir quem
devemos tirar de nossa vida, antes que o tal alguém nos roube parte especial dela.